Em tempos recuados (sim, já sou cota o suficiente para utilizar esta expressão!), sempre que era noite de eleições, e perante os resultados anunciados, conversávamos. Presencialmente, nos anos em que me acolheu, quando estudava na Universidade em Lisboa, ou pelo telefone, quando já lá não estava. Gostávamos de comentar e fazer a nossa análise particular. Era a minha madrinha e, como leitora mais assídua da família (o Expresso ficava amarrotado logo no sábado de manhã, o Público era presença frequente lá em casa e a rádio estava sempre sintonizada na TSF), era a que me falava das diferentes perspectivas dos comentadores. Claro que me falava mais dos seus preferidos, os de esquerda, não vivesse ela tão perto do Rato.Este ambiente e esta constância na análise influenciou-me muito na perspectiva de encarar o voto como um dever e como uma expressão das minhas ideias, numa cruz, que devia seleccionar por convicção.
Neste ponto da campanha, desta campanha do ainda mas já pós-crise, as análises já atingiram um ponto de exaustão em que já quase tudo se disse. E, dessa forma, alguém vai acertar no prognóstico...
De qualquer forma, há expressões que retive e sobre as quais reflicto.
Dizia um versado em análise estatística que tão cedo (e estamos a falar de um prazo de 20 anos, pelo menos) não haverá maiorias absolutas. O que, digo eu, que não percebo nada disto, nos pode remeter para períodos de instabilidade governativa. Porém, também acredito que vivemos nos últimos anos um défice de soberania nacional, quais fantoches manipulados por UE, Troika, FMI, etc. Considero ainda, nessa perspectiva, um erro de estratégia política do PS o seu isolamento, sem coligações à esquerda. ( Bem sei que Marcelo ontem referiu que o que está em causa são os 400 mil votos de centro, indecisos... e que têm medo de radicalismos à esquerda, mas... ).
Mas segundo o mesmo comentador, os indecisos não existem. É um grupo criado pelas sondagens e que tem expressão porque alguém responde que ainda não sabe. Mas as pessoas já decidiram: ou não votam e são abstenção, ou já decidiram mas não querem dizer, o que resultará nas margens de erro das sondagens. Diziam também os comentadores que o voto em branco deve ser correctamente analisado, visto que tinham até muitos exemplos de amigos esclarecidos politicamente e que optavam por votar em branco.
Concordo. Na medida em que pode não existir, no boletim, uma força política na qual acreditemos e que nos transmita a confiança necessária para que nela depositemos a nossa esperança.
Mas este voto em branco é em tudo distinto de não votar, de ficar em casa ou ir à bola.
Esse é um desprezo pela vida social, pelo dever cívico que todos temos e pela nossa liberdade de expressão, de exigência aos representantes eleitos e de crítica (coisa que, nós, portugueses fazemos tão bem)!
Vamos lá então, no domingo!
PS: Madrinha, fazes-me falta!
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