Porque há vida para além da paisagem... para além da rotina diária, do mundo das notícias e do ecrã. Reflexões daqui, dali de acolá ... e de cá de dentro, que é onde a nossa paisagem se molda e gera paz.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

O orgulho de quem ensina


Ontem recebi as notas da mais velha.
Mãe babada com as maiores das razões de notas monótonas, na brincadeira da directora de turma. Decidi partilhá-las porque  esse é o espírito que quero na minha vida e no que torno público: coisas boas e positivas. Essas são as que merecem ser partilhadas para criar boas energias. As outras, menos boas, toda a gente as tem e, de vez em quando, ninguém escapa ao desabafo. Mas gosto definitivamente mais da positive note.
Por isso, quero também partilhar convosco o orgulho que senti nos olhos daquela professora que, olhando as notas da minha filha, se sentiu realizada, satisfeita, como fez, também, questão de realçar.
Há professores que se importam, há professores que se alegram genuinamente com os resultados dos seus alunos, não apenas para efeitos estatísticos. Penso ser o caso, desculpando a inconfidência e a ousadia.
Quis um dia eu ser professora, a vida e as minhas escolhas levaram-me para outros caminhos. Mas ainda hoje sinto orgulho e prazer quando ensino algo a alguém. Quanto vejo a satisfação que a aprendizagem traz a alguém.
Obrigada, professora.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Somos Feira


Decorre até domingo a 52ª Feira Nacional da Agricultura em Santarém.
Durante muitos anos me divorciei desta feira. Mas dela tenho recordações de criança, cheiro a frango assado, horas ao sol a percorrer a exposição de tractores e máquinas agrícolas, necessárias ao trabalho do meu pai, o torrão de Alicante que a minha madrinha inevitavelmente comprava ou, se não ia connosco, lhe trazíamos por sabermos que adorava.
Durante muitos anos, ou ia de raspão, ou não ia, por lhe perder o sentido, a importância.
Porém, desde há alguns anos a esta parte, e com a importância renovada numa agricultura nacional, e nos  produtos portugueses que aprendemos a revalorizar, a feira voltou a chamar gentes, voltou a não ser só um passatempo em dias de calor tímido, com largadas à mistura, não fosse estarmos na capital do Ribatejo. 
E assim, voltei a revisitá-la, com outros olhos, de quem vê na agricultura um potencial de futuro e onde, com tempo, disposição e companhia certas ,  acabamos por aprender muito e a dar valor às experiências de quem tirou estas duas semanas para promover o que é seu.
Gostamos assim, de visitar os stands com tempo, para perceber modos de fabrico, estratégias de comercialização ( toda a gente quer fugir da grande distribuição, onde não se sente valorizado!), histórias de família por trás do queijo que nos chega com um cheiro e sabores irresistíveis, acompanhado por vinhos que, este ano, por influência do tempo de verdadeiro Verão, os colocou a temperaturas incorrectas para a sua correcta apreciação. Aqueles produtos da nossa terra mereciam que respeitassem o seu valor e lhe dessem as condições necessárias para que pudessem brilhar.
Se assim testemunhamos  num pavilhão, noutro, de tasquinhas e petiscos e numa área de restauração ao ar livre, nebulizadores tentavam refrescar os visitantes. Pena não protegessem os alimentos. De onde vem  aquela água, será potável, é bom para os pastéis de tentúgal levar com aqueles borrifos por cima sem protecção? Mas adiante...
Vimos as máquinas e tractores de última geração, sendo que é preciso levar uma dose de paciência extra para o mais pequeno subir a (quase) todos, tal é o fascínio.


Sentimos o cheiro da terra e do maneio dos animais, da vida no campo ... feliz, mas dura, muito dura.


Pena o cartaz este ano não ser tão apelativo como em anos anteriores... Pouco entusiasmo em frente aos palcos, onde o mestre da casa, David Antunes, acaba por ser (novamente) rei. Nem sei se dia 13, com a repetição do Anselmo Ralph (porquê outra vez, senhores, porquê?) , não fugirão todos para o segundo palco para o ouvirem a ele novamente.
E depois  há as largadas. Quem é do Ribatejo tende a perceber melhor esta coisa dos toiros, o que leva as pessoas a estarem ali a ver outros (semi)corajosos a correrem atrás deles. Confesso que tenho sentimentos confusos em relação a esta problemática (hiiiiiii, que cliché!!!!). Sou contra a tortura dos animais, mas culturalmente fui criada neste meio e consigo perceber como, quando assim é, relevamos o mal que faz, pela satisfação (mórbida, dirão alguns) que trás. E mais não digo para não ferir susceptibilidades.


Gosto da Feira, gosto de aprender na feira, gosto do banho da multidão, gosto do balão de silly season que nos dá. E os filhotes já sentem o mesmo... É um evento anual a não faltar... Fala o sangue ribatejano na guelra...

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Meu amor




Cada um tem o seu. Cada um lhe dedica o que pode, consegue ou quer.
O meu, conheço-lhe o brilho nos olhos da alegria, ou o cansaço em dias difíceis. Conheço-lhe as interrogações da mente, mesmo sem as verbalizar. Acabamos as frases um do outro quando, sem falar, já estávamos a falar da mesma coisa. Zangamos e corrigimos.
E rimos... juntos, de tudo e de nada, de parvoíces e de coisas sérias, conhecendo o humor próprio de uma vida em conjunto.
Conheço-lhe a pele ao milímetro, o cheiro que me conforta a alma e o corpo.
Revejo-o no sorriso matreiro do pequeno, nas reacções da mais velha.
Amor de uma vida inteira e cheia.
Obrigada.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Onde estás, criança?




E quando nos apercebemos, já a fechamos a cadeado, por baixo de uma escada, sem direito a falar, para não ficar mal. Já a silenciámos para a vida, porque nos embaraça e nos torna reprováveis aos olhos dos outros. 
A criança definha, dia após dia em que não a deixamos transparecer no nosso olhar, nas nossas palavras e no nosso olhar. Perde o cabelo luzidío mas rebelde, perde as nódoas negras da brincadeira e as maçãs rosadas da corrida libertadora e das gargalhadas incontroláveis.

Se ao menos um pouco da sua ternura viesse à tona da pele todos os dias, quão mais feliz seríamos...
Não há nada que nos encha mais o coração do que o seu sorriso e o seu carinho! Há que libertá-la!!!

Onde estás, criança?


Foto: http://fanficsunderthestairs.tumblr.com/