Porque há vida para além da paisagem... para além da rotina diária, do mundo das notícias e do ecrã. Reflexões daqui, dali de acolá ... e de cá de dentro, que é onde a nossa paisagem se molda e gera paz.

terça-feira, 24 de abril de 2018

O papel? Qual papel?



Era uma vez um país. Chamava-se República do Papel.
Neste país, existiam pessoas empreendedoras. Muito. Que queriam desenvolver a sua vida, criando negócios e postos de trabalho.
Porém, existiam determinados entraves para que tal fosse possível. E quase todos residiam num papel.
Qual papel? 
Um papel. Um qualquer papel...
 que não foi bem preenchido, 
que não foi entregue, 
que não estava bem identificado,
 bem explícito,
que não previa todas as situações, 
que não justificava o que era necessário, 
que não identificava bem o destinatário ou o remetente, 
ou que devia ter ser entregue ontem e hoje já era tarde demais.
Exemplos? Muitos.

Vamos dar o exemplo de empresa do ramo alimentar: era preciso ter implementado um conjunto de regras que atestassem a qualidade dos produtos ou serviços. (até aqui tudo bem, não tenho nada contra regras que nivelem de forma positiva aquilo que nos faz ser melhores)

E que papéis eram precisos para cumprir com todas essas regras?

- HACCP implementado (vão somando os potenciais custos!!), que implica fazer:
- análises microbiológicas, organolécticas, de superfície, à água...
- papel comprovativo de aferição de balanças e instrumentos afins...
- licenças de captação de águas, com comprovativos de envio de volumes extraídos por mês...
- licenças ambientais, que obrigam a ter papéis que atestem:
- gestão de todo e qualquer resíduo (carimbado e comprovado)...
- dísticos à entrada do estabelecimento com indicação de lotação, horário de funcionamento, atendimento prioritário, indicação de estabelecimento que aceita ou não fumadores, e animais, e indicação da identidade de gestão de conflitos, e proibição de bebidas alcoólicas a a) e b) e c), e informação sobre alergénios, e lista de preços
- e papel afixado do horário de trabalho, do Relatório Único, o mapa de férias, e das horas...

(já ficaram sem fôlego?... era essa a ideia)

Assim se passava com empresas da área alimentar, mas com outras áreas acontecia o mesmo.

E, para além destes papéis, que supostamente atestavam a capacidade de uma empresa laborar, e que para se conseguirem ter, estrangulavam as empresas financeiramente (porque todos estes serviços adicionais se pagavam), nesta República, existiam pessoas empreendedoras, que não queriam saber nada dos papéis, trabalhavam na mesma, sem todos aqueles custos, mas, porque não estavam em nenhuma lista, não sofriam as visitas sempre stressantes de pessoas que fiscalizavam todos estes papéis e mais alguns.

Estas pessoas, a quem chamavam inspectores e fiscalizadores, tinham sempre uma característica comum, que permitiam que a República do Papel funcionasse: liam as leis dos papéis, feitas às vezes por cérebros iluminados que nada percebiam do que estavam a tratar, e verificavam se eram cumpridos.(Parece bem, certo?)

Depois existia algo que as distinguia verdadeiramente: 
- aqueles que construtivamente ajudavam as pessoas empreendedoras a corrigir erros e a indicar soluções construtivas
- e os outros que apenas penalizavam os empreendedores que lutavam todos os dias por um futuro melhor.

E aí vinha a pergunta: 
-O papel?
- Qual papel?

Porque, na República do Papel... sempre faltava um papel... e, ás vezes, assim, se apontava o dedo e  se aferia do dolo das pessoas... 
...mas das que estavam na lista!!!!!

(NOTA: qualquer semelhança com o nosso país, é pura verdade. Dura e atrofiante realidade)