(Nota: Desafio de A Limonada da Vidal aceite por Para além da paisagem para dar um fim a esta história)
No seu quarto Joana
angustiava,
– como é
possível? Ainda há 2 semanas experimentei o vestido e estava tudo bem! Isto tem
de resultar, vou experimentar o corpete que o Francisco me ofereceu no dia dos
namorados. Se eu apertar estas banhas o vestido servirá na certa! Oh não! O
fecho não passa daqui e o casamento é daqui a duas horas. Mãe! Mãe, anda cá,
por favor! Preciso da tua ajuda. O vestido não me serve. Maldita dieta do
limão!
(chega a mãe)
- Então, ainda
não te maquilhaste?
- Mãe, por favor, não
me pressiones mais ainda! Preciso de caber dentro deste vestido, dê por onde
der! Liga à tua costureira Maria, e ela que venha cá em dois passos.
(chega a costureira)
- Ó menina Joana, isto
não tem solução, eu não tenho tecido para lhe fazer o acrescento. Essa barriga
está enorme, o fecho não passa da cintura. Tem a certeza de que não estará
grávida?".
“Não, não podia ser” – pensava Joana. Decerto que, se
dissesse às pessoas naquele quarto, que tinha feito um voto de castidade até
ao casamento, ninguém entenderia. Até Francisco, quando ela lho sugeriu,
franziu o sobrolho. Mas ele entendeu, e até se animou com a ideia, enfim, dizendo
que assim teriam tempo para se preparar, para se entregarem por completo um ao
outro.
Mas Joana não tinha sido fiel. A si mesma, sobretudo. Os
pensamentos pecaminosos assolavam-lhe as noites quentes, em que não conseguia
dormir. Pensava naquele homem alto, cabelo desalinhado, suor a escorrer do
rosto enquanto desbravava minis no café da esquina. Olhava-a quando passava
apressada com os preparativos do seu casamento. Ela sentia-se observada…e
adorava! À noite, pensava nas suas mãos calejadas e como seria senti-las a
percorrer cada centímetro do seu corpo, ávido de prazer.
Para afastar esses pensamentos, Joana abria todos os dias a
última gaveta da sua mesa-de-cabeceira e retirava barras de chocolate que
devorava como quem devora um comprimido, esperando que faça efeito rápido. Para
que a sua mente se acalmasse.
“Teria sido isto que me fez engordar em duas semanas?” –
pensou.
“Saiam todas… Deixem-me sozinha, vou caber nesse vestido mas
deixem-me tentar sozinha!”
A mãe respeitou, mesmo sem entender. Maria também saiu e
foi-se embora, fechando a porta da rua calmamente atrás de si. Suspirou e
sentiu-se aliviada. Com certeza que Joana não caberia no vestido. Os dois centímetros
que retirara propositadamente ao vestido não o permitiriam. Assim, Maria
poderia afagar o cabelo de Francisco mais uma noite. Mais uma noite de
castidade em que Francisco se preparava para o casamento com Joana, enrolado
nos lençóis de Maria. Duplamente se sentia Maria aliviada, pensando: “ Bem
feita, ninguém te mandou invejar o meu homem, quando ele está no café a beber
as suas cervejas e te olha de cima abaixo….”
No quarto, Joana desistia. De tudo. Abriu a gaveta e comeu o
último chocolate.
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