Em dia da liberdade apetece-me ser livre.
Imaginem esta situação: alguém surgido do nada, aparece num
restaurante para reservar um serviço. O restaurante apresenta o seu serviço, a
sua casa, o seu empenho. O potencial cliente apresenta o seu pedido. Pormenores
são discutidos, exigências são feitas. Entre elas que seja servida imperial e
não cerveja em garrafa, e que estejam disponíveis litros e litros já que o
grupo é inglês e bebe muito, que camarões 30/40 sejam cozidos no dia anterior,
que o bacalhau seja acompanhado de pimentos, que o espumante seja brut, que o
bagaço seja daquela marca x… enfim. Por fim, é exigida uma prova à cerveja para
fechar o negócio. Logística accionada, favores pedidos para que tudo seja
satisfeito, contacta-se o cliente para realizar a prova e fechar o negócio, a
acorrer em dois dias.
Telefone desligado, nunca mais ninguém atendeu.
De repente, ao final do dia, recebe o restaurante um
telefonema, de outro restaurante a perguntar se tinha tido um contacto
semelhante. Nesse restaurante, já o senhor tinha feito despesa (comido e
bebido), mas na hora do pagamento o cartão falhou e a conta ficou para pagar juntamente
com o serviço, aquele mesmo serviço que, pelos vistos andou a requisitar por
vários restaurantes da região.
Esta situação é real e aconteceu nestes dias. Ainda sinto
algumas reticências quando à burla em questão. Porque além de uma encomenda
exagerada de cerveja, que se pode devolver e de um café que foi oferecido ao
senhor, não tem, o primeiro restaurante mais despesa. No segundo, já foi mais o
estrago.
Será para tirar medidas para algum assalto, ou só para ver o
local mais apropriado para pregar a pastilha?
Louvo o empenho do senhor do segundo restaurante, que sabe
já onde está hospedado este senhor, o carro, etc… E o cuidado que teve em falar
com a concorrência.
Vejamos: o serviço não estava completamente fechado, e aqui
é que a linha ténue entre a palavra e o compromisso deixa a LIBERDADE hoje mal vista.
A palavra do restaurante, dos seus donos não poderia falhar. Essa é, aliás, a
premissa de quem está neste negócio sem pretensões de enganar ninguém. O
compromisso do outro lado, em não nos fazer perder tempo nem dinheiro, falhou
redondamente. Quero crer que, para além da burla, há um desequilíbrio qualquer…
Tanta história, tanta, conversa…Ilusão.
Sejamos livres para denunciar (pelo menos!) estes casos e
assim, escaldados, seremos também livres para, infelizmente, duvidarmos um pouco
de todos, para bem de todos também.
Hoje apetece-me ser livre para denunciar todos os que põem a
liberdade dos outros em causa com as suas acções. Continuo a pensar que os fins
não justificam os meios.
Sou filha da Revolução de Abril, nasci 9 meses depois.
Quando tinha 20 anos fui convidada pela Junta de Freguesia da minha terra para
fazer um discurso…. Na altura, disseram que não tinha sido eu a escrevê-lo, mas
sim o meu pai, opositor, em eleições anteriores, do executivo em funções. Pois bem, lamento
desapontar essas vozes camufladas, porque há uma linha ténue que separa a minha
palavra, que honro, e o meu compromisso, em ser uma pessoa real. Essa linha
chama-se autenticidade.
(Uau...soube bem tirar isto de cima dos ombros, estava aqui entalado há uns anos!!! Sinto.me livre!!)