Já andava para escrever sobre isto há uns tempos.
Esta coisa do Acordo Ortográfico mexe-me com os nervos.
Sou formada em Línguas. Estive para seguir a carreira docente mas não segui.
Mas tenho um enorme respeito pela Língua Portuguesa, que me vem dos 7 (sim, sete!) puxões de orelha que a minha professora primária, na segunda classe, me deu, por dar sete erros numa cópia do quadro de ardósia, sobre as vindimas.
Um erro ortográfico para mim fere-me a vista, dá-me volta às entranhas...
E depois veio esta coisa do Acordo... Quando foi introduzido, a minha filha estava a começar a aprender a ler e escrever. Para ela, recepção sem p e factura sem c é normal. E março com minúscula também.
E eu tenho de engolir... porque é o que lhes é ensinado e avaliado e penalizado, como se pode ler nas notícias de hoje aqui.
Recordo figuras notáveis, como Vasco Graça Moura que, quando assumiu a direcção do CCB, decidiu não utilizar, nos serviços internos, o referido acordo (para ler aqui), decisão contestada no Parlamento, na altura.
Ou recentemente, Marcelo Rebelo Sousa, em horário nobre a recusá-lo liminarmente. Aceito a opinião de Edite Estrela (aqui), mas custa-me aceitar o que cedemos em prol dos milhões do outro lado do Atlântico, que muito respeito.
A situação em que estamos, porém, é a Terra de Ninguém: uns escrevem como sempre, outros como agora 'nos mandam'. Outros já metem a linguagem SMS pelo meio, cheia de símbolos e abreviaturas, como se estivéssemos a tirar notas numa aula, em que o professor fala muito rápido. Acaba por haver uma permissividade em relação aos erros (que, sob um ponto de vista, o são, de facto, e, sob outro, são a forma correcta), porque agora cada um decide como escreve e toma posições de fundo sobre o assunto.
Será que, quando nós, dinossauros do tempo da outra senhora, desaparecermos, assim desaparecerão de vez as consoantes mudas?? Ou a Terra de Ninguém permanecerá nesta ocidental praia lusitana?
Para já, como não vejo razões que me convençam e não pretendo negar a minha história e a minha língua, agradeço a recente reflexão acutilante de Helena Sacadura Cabral, em fio de prumo, sobre o assunto e, fazendo minhas as suas palavras: