Decorre até domingo a 52ª Feira Nacional da Agricultura em Santarém.
Durante muitos anos me divorciei desta feira. Mas dela tenho recordações de criança, cheiro a frango assado, horas ao sol a percorrer a exposição de tractores e máquinas agrícolas, necessárias ao trabalho do meu pai, o torrão de Alicante que a minha madrinha inevitavelmente comprava ou, se não ia connosco, lhe trazíamos por sabermos que adorava.
Durante muitos anos, ou ia de raspão, ou não ia, por lhe perder o sentido, a importância.
Porém, desde há alguns anos a esta parte, e com a importância renovada numa agricultura nacional, e nos produtos portugueses que aprendemos a revalorizar, a feira voltou a chamar gentes, voltou a não ser só um passatempo em dias de calor tímido, com largadas à mistura, não fosse estarmos na capital do Ribatejo.
E assim, voltei a revisitá-la, com outros olhos, de quem vê na agricultura um potencial de futuro e onde, com tempo, disposição e companhia certas , acabamos por aprender muito e a dar valor às experiências de quem tirou estas duas semanas para promover o que é seu.
Gostamos assim, de visitar os stands com tempo, para perceber modos de fabrico, estratégias de comercialização ( toda a gente quer fugir da grande distribuição, onde não se sente valorizado!), histórias de família por trás do queijo que nos chega com um cheiro e sabores irresistíveis, acompanhado por vinhos que, este ano, por influência do tempo de verdadeiro Verão, os colocou a temperaturas incorrectas para a sua correcta apreciação. Aqueles produtos da nossa terra mereciam que respeitassem o seu valor e lhe dessem as condições necessárias para que pudessem brilhar.
Se assim testemunhamos num pavilhão, noutro, de tasquinhas e petiscos e numa área de restauração ao ar livre, nebulizadores tentavam refrescar os visitantes. Pena não protegessem os alimentos. De onde vem aquela água, será potável, é bom para os pastéis de tentúgal levar com aqueles borrifos por cima sem protecção? Mas adiante...
Vimos as máquinas e tractores de última geração, sendo que é preciso levar uma dose de paciência extra para o mais pequeno subir a (quase) todos, tal é o fascínio.
Sentimos o cheiro da terra e do maneio dos animais, da vida no campo ... feliz, mas dura, muito dura.
Pena o cartaz este ano não ser tão apelativo como em anos anteriores... Pouco entusiasmo em frente aos palcos, onde o mestre da casa, David Antunes, acaba por ser (novamente) rei. Nem sei se dia 13, com a repetição do Anselmo Ralph (porquê outra vez, senhores, porquê?) , não fugirão todos para o segundo palco para o ouvirem a ele novamente.
E depois há as largadas. Quem é do Ribatejo tende a perceber melhor esta coisa dos toiros, o que leva as pessoas a estarem ali a ver outros (semi)corajosos a correrem atrás deles. Confesso que tenho sentimentos confusos em relação a esta problemática (hiiiiiii, que cliché!!!!). Sou contra a tortura dos animais, mas culturalmente fui criada neste meio e consigo perceber como, quando assim é, relevamos o mal que faz, pela satisfação (mórbida, dirão alguns) que trás. E mais não digo para não ferir susceptibilidades.
Gosto da Feira, gosto de aprender na feira, gosto do banho da multidão, gosto do balão de silly season que nos dá. E os filhotes já sentem o mesmo... É um evento anual a não faltar... Fala o sangue ribatejano na guelra...