Já tenho falado desta coisa terrível que se chama rotina. Especialmente a que nos faz caminhar desenfreadamente de um lado para o outro sem tempo para respirar ou para analisar sequer se faz sentido.
Recentemente, e como já várias vezes me aconteceu ao longo da vida, a vida vem e dá um estalo daqueles que nos atira ao chão e nos faz relativizar tudo.
E, como também já se percebeu, a razão maior da minha vida e onde me sinto perfeitamente realizada é a de ser mãe com todas as angústias do estarei a fazer bem, serei demasiado galinha ou estou a dar demasiada liberdade pelo meio.
Reconheço ainda que este último filho, aos 36 anos, me rejuvenesceu na forma de os olhar e de os aproveitar. Porque os amo incondicionalmente, claro está. E porque percebi que são aqueles momentos pequenos, de olhares cúmplices e de riso puro do coração que nos dão real felicidade. E que passam a correr.
Nesse sentido, tenho reflectido bastante sobre a melhor forma de nos fazermos felizes nesta família que críamos.
Foi quando me cruzei com textos sobre slow parenting.
O conceito já vem a ser desenvolvido há uns anos e parece ter cada vez mais adeptos. Na minha opinião, porque cada vez há mais pessoas que param e pensam: "Para quê esta correria?"
E o slow parenting (vamos lá tentar uma tradução livre: parentalidade serena...?), incentiva a que paremos. Simplesmente paremos e observemos os nossos filhos. Sem criar expectativas e ouvindo realmente o que dizem... porque eles até são muito bons nisso!
"Ah, mas o meu filho tem 21 meses e não mete nada à boca! Ah, mas o meu já tirou as fraldas há muito tempo... Ah, mas o meu é top na escola e ainda faz natação, e andebol e toca 5 instrumentos!..."
E esquecemos que cada um tem o seu ritmo... e esquecemos que cada um é único e descobre o seu caminho... quando tem de descobrir. Rótulos e mais rótulos de bom, mau, péssimo. Isto cria medo e até pânico de não corresponder às expectativas. Medo de falhar...constante.
Criou-se também a noção de que os miúdos não podem estar sem nada para fazer. E então temos que lhe dar televisão (demais), um dvd (visto pela enésima vez), um tablet com jogos ( alguns até não adequados à idade), uma actividade extra curricular (uma??!!! dez, no mínimo). Tudo para os manter ocupados...
Digam lá, como filhos dos anos 80, não construíram carrinhos de rolamentos, ou um walky talky com duas latas nas pontas e um fio entre elas e não pregaram partidas aos pais com fio de coco espalhado pelo corredor, a ver quem dava o tralho maior... - é melhor ficar por aqui, se não ainda dizem que estou a apelar à violência. Mas todas estas brincadeiras vieram do não fazer nada, ou do não ter nada para fazer... e, sabem que mais? Fomos criativos...e tão felizes!!
Hoje parece que, se não tivermos actividades planeadas para todas as horas do dia, somos negligentes, não prestamos a atenção devida aos pirralhos e há até um sentimento de culpa associado.
O movimento de slow parenting encoraja as famílias a fazerem as coisas não devagar mas ao ritmo certo. E que os momentos sejam realmente apreciados, mesmo se for um momento de silêncio ou de partilha. Vamos parar, observar, realmente ouvir.
A infância não é uma corrida. O mundo escolar já está tão repleto de avaliações e escalas e regras e modelos e expectativas...
Já sabemos que as famílias sem apoio familiar próximo vêem-se na contigência de recorrer à ocupação do tempo dos filhos em actividades em non-stop porque os seus horários de trabalho são incompatíveis com este tempo de folga que deixou pura e simplesmente de existir para os miúdos.
Também há quem mude radicalmente modos de vida para não perder estes tempos de que vamos ter tantas saudades.
São muitos os sites que nos apontam caminhos para quem quiser reflectir um pouco sobre isto. Num deles (http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/noticia/2014/10/conheca-o-slow-parenting-que-defende-criacao-dos-filhos-com-menos-pressao-4625912.html), aparecem resumidos os seguintes mandamentos do slow parenting:
Ouvidos atentos: escutar é fundamental para uma relação de confiança.
Miniexecutivo: as crianças não precisam de cumprir
diversas actividades e sentir o peso de agendas sobrecarregadas.
Menos, menos: deixe tempo para a criança brincar. A
falta deste espaço, somado à alta carga de cobrança, gera ansiedade e sintomas
físicos.
Tédio faz bem: são nestes momentos que a mente se expande a livres pensamentos,
desenvolvendo a criatividade e diminuindo a ansiedade.
Ócio familiar: a família toda precisa entrar no clima
slow. Deixar a agenda livre faz bem a todos. As crianças até cinco anos devem
aprender de forma livre, sem agendas estruturadas.
Novos amigos: é importante deixar a criança se
relacionar com outras crianças. O círculo social dos filhos precisa ser maior
do que apenas o círculo familiar.
Por isso, pessoal, toca a abrandar! Não queiram ser super pais com super miúdos! Há muito que se lhe diga em relação a esse super. De uma qualidade, passa a ser um carrasco que só nos traz infelicidade.
Palavra de mãe acelerada (mas trabalhando para abrandar)!
Outros sites que podem visitar:
https://slowparentingmovement.wordpress.com
https://www.bostonglobe.com/lifestyle/2015/05/10/the-benefits-slow-parenting/2LImOAIyqElORCStgOADSI/story.html
http://parenting.blogs.nytimes.com/2009/04/08/what-is-slow-parenting/?_r=0
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