Acordo de noite em sobressalto, e dá-se um momento de tomada de consciência...
Pandemia, estado de emergência, vírus, morte...
Sim, é verdade... Não estamos num filme nem é um pesadelo. É a nossa realidade. A nossa nova realidade.
Olho os meus filhos e penso que recordações terão deste tempo de isolamento, penso como reagirão se algum de nós ou da família contrair a doença.
Fazem-me tanta falta os afectos. O toque de uma festa, um conforto no ombro, um abraço sentido, um beijo .... tantos beijos que deixei de dar.
Desde que este período horrível começou, e sem saber ainda a dimensão que tomaria, inquietava-me o ar preocupado do director-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus. Perguntava-me como é que uma pessoa no lugar que ele ocupa não transmitia segurança. Não podia, não pode. E a tez enrugada que continua a envergar continua a fazer apertar o meu coração.
Tento ver notícias apenas uma vez por dia. O que é certo é que vou espreitando, é inevitável. Da frieza dos britânicos, vêm frases incríveis:" Se ficarmos abaixo das 20 mil mortes, é porque fizemos bem." Inacreditável. Fazem-se especulações sobre a mutação do vírus, sobre uma nova vaga no Inverno. E depois há chefes de estado que são, utilizando as palavras do primeiro-ministro repugnantes. Trump, Bolsonaro, Johnson... e tantos, mas tantos outros. Muitos morrerão pela sua mão. Nem nos nossos piores momentos, pensámos viver uma situação assim.
As frases soam já demasiado repetidas, a incredulidade mantém-se.
Como muitos, tenho a minha vida profissional suspensa. Assusta-me. Muito.Tempos de guerra não eram para nós... Há lá no fundo uma réstia de esperança de que isto passe rápido, de que venha um dia, o dia em que saímos à rua e pronto, está tudo bem.
Custa-me imenso não ser optimista. Mas continuarei a ser. Inevitavelmente. Há momentos menos bons, mais desesperados.
Mas não nos resta outra opção senão perseverar.
Neste horrível mundo novo, resta-nos acreditar que vai ficar tudo bem.
Só pode.