“A cozinha era solarenga, com vidros embutidos em caixilharia
de metal pintado de branco. Dava para uma varanda e um terraço lá em baixo.
Quando eu vinha na salinha que ficava entre os quartos e a
cozinha, já ouvia trabucar. Tachos, panelas, planos, refeições, ideias se
misturavam já, naquele ambiente, ainda sossegado para as manhãs quase sempre
tranquilas de domingo.
Uma peça branca, funda, de cerâmica branca. Sempre a mesma.
A cenoura já estava cozida. E na languidez dos minutos, triturávamos os pedaços
num passe-vite manual, já meio enferrujado (ou não, sei lá!) com uma bola
castanho no manípulo. À papa que dali resultava, juntavam-se ovos, açúcar,
canela (muita) e farinha (pouca). A cor de laranja em contraste com o branco
era deliciosa.
Tudo delicioso. Daqui nasciam queques húmidos de sabor,
coloridos da canela e do prazer de momentos irrepetíveis e de que não nos demos
conta da sua importância.
Que gostosos!
Tenho a receita, que repito, com os meus. Os meus dois, que
amo sem medida.
Que ofereço a amigos. Sempre de coração. De quem sabe, lá no
fundo:
- que gestos contam
-que momentos contam
-que há instantes cristalizados, que aquecem o coração.”
A vida deu-me muitas mães. Grata. A todas.
Feliz Dia da Mãe.