Porque há vida para além da paisagem... para além da rotina diária, do mundo das notícias e do ecrã. Reflexões daqui, dali de acolá ... e de cá de dentro, que é onde a nossa paisagem se molda e gera paz.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O quase paraíso



Quase, quase... o paraíso.
Tenho um colega de trabalho, de uma vida inteira, que sempre disse que queria era ir para a ilha. Penso que ele nunca pensou bem qual... desde que lhe desse descanso e uma vida desafogada. O paraíso, portanto.

Estive na ilha de Cuba. Paraíso? Quase.

Trago um misto de emoções em relação a esta ilha e aos cubanos.  Gostei muito de conhecer, a história de Cuba é realmente muito interessante e foi muito bem explicada pelo nosso guia de visita a Havana e é riquíssima.

Não deixa de ser curioso ouvi-los e perceber que têm um orgulho imenso no seu país e que aceitam a sua realidade,  floreada para turista ouvir. A realidade cubana é difícil, com ordenados de 10 euros por mês, apesar do guia dizer que agora chega aos 100. Com horários das 8 às 5, sem pausas ou autorização para comer. Sem folgas. Mas é assim. E se é assim, não se discute.

Há regras ou formas de fazer as coisas que não se contestam.
Se há um furacão e estragos, tanto privados como estado têm 15 dias para recuperar as coisas. É regra. Mas depois, há imensas casas degradadas e obras de remodelação em todo o lado. Devido ao clima, dizem.

A educação é grátis, até à universidade. Antes de entrar, fazem um teste de todas as áreas do saber. Escolhem-se 5 áreas de que se gosta. Os resultados serão mais favoráveis em pelo menos uma delas e, assim, estudarão algo que lhes agrada. Desde cedo, é introduzida a prática nos estudos e não só a teórica. Assim, quando saem da universidade já sabem praticar efectivamente uma profissão.

A saúde é grátis. Toda a gente tem acesso. Excelentes médicos. No entanto, sem condições no hospital, como relatarei aqui.

Tudo parece bem na ilha de Cuba. Até os americanos, em Guantanamo, estão controlados por uma enorme barragem, que, em caso de conflito, será aberta e os inundará sem problemas. Sem armas.

A taxa de criminalidade é muito baixa. E, diz-nos o guia, em Espanha, numa feira de turismo recente, Cuba foi considerada o país mais seguro do mundo. Pode passear-se pelas ruas, fora dos resorts, sem problemas, a qualquer hora do dia. Então porque têm as janelas das casas grades?- alguém pergunta.
E justifica-se com os materiais disponíveis para construção nos vários períodos: ferro fundido no século XVIII: grades, período da crise depois do colapso do principal parceiro comercial (União Soviética) e com o embargo dos americanos, instabilidade, ferro forjado: grades. Agora, não há necessidade de grades. Mas existem.Mas é assim. E se é assim, não se discute.



Os mares são lindos e quentes, a qualquer hora do dia. Neste período, de chuvas, quase todos os dias é dia de trovoada. E bem forte. Mas segue-se a vida, como se nada fosse. Nada se interrompe. Nem o banho da praia ou da piscina. Daqui a nada passa.

São bem dispostos, sim. Mas não o povo mais simpático do mundo. Só se previrem que darás gorjeta generosa, ou se nessa noite serão avaliados.  Aí só sorrisos.

Aí falham as companhias e cadeias de resorts mundiais, que, para além de explorarem os trabalhadores, não transmitem padrões de qualidade a que estamos habituados noutros lados com o mesmo tipo de hóteis. Dizem estes que têm uma política de qualidade com normas da família da ISO 9000.... Digamos que é uma família bem afastada, que permite a degradação dos quartos em hotéis de 5 estrelas, e falta de limpeza. Só temos 28 anos de turismo, dizem. É assim, não se discute.



Gostei? SIm, bastante. Trazemos, das viagens, muito mais do que aquilo que levamos. Adorei poder proporcionar este conhecimento do mundo aos meus filhos. Voltaria? Provavelmente, não. Muito mais para conhecer. E outros locais de recordação mais agradável do que a ilha para pensar em revisitar.

Paraíso? Quase... Um quase assim de braços bem esticados. 


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