Porque há vida para além da paisagem... para além da rotina diária, do mundo das notícias e do ecrã. Reflexões daqui, dali de acolá ... e de cá de dentro, que é onde a nossa paisagem se molda e gera paz.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Cuidem de vós!



No início deste ano, fui submetida uma intervenção cirúrgica, onde fiz a correcção nos dois pés  do Hallux Valgus, vulgo deformação da base do 1º dedo do pé que provoca uma saliência óssea – exostose, vulgo joanete.

Ao contrário do que se possa pensar ou vulgarmente se pensa, não foi uma intervenção estética. Os joanetes provocam muitas dores, é difícil conseguir calçado confortável. Diz-me o meu operador que 90% das pessoas que têm joanetes são mulheres, causados pelo uso de sapatos apertados na parte dos pés e pelo salto alto. 

No meu caso, tinha joanetes desde os 10 anos, altura em que não usava nem sonhava andar de saltos altos e bico fino. Deve-se a uma propensão genética. A minha avó e mãe tinham também e muito pronunciados.

Ao fim de 42 anos decidi-me a fazer a cirurgia, aos dois pés em simultâneo. Mais uma vez, nas palavras do meu operador, quando me observou os pés pela primeira vez: "Não sofra mais, minha senhora!"

Esta não é uma operação fácil. Dir-me-ão que nenhuma é, mas queria deixar-vos aqui o meu testemunho que pode ajudar alguém, quem sabe. Digo que não é fácil porque envolve muita dor, controlada com uma anestesia aos pés que dura praticamente 24 horas e por medicamentos para as dores de 4 em 4 horas, com um mais forte em caso de SOS.

Os primeiros 10/12 dias foram, de facto, muito dolorosos mas optei por fazer a cirurgia aos dois por sugestão do médico ( a tecnologia e os avanços médicos assim o permitem) e para evitar passar pelo processo duas vezes, anulando mais dois ou três meses de inactividade.

Não é fácil também para a nossa família, que de repente, porque nós decidimos e não eles, se vêem com uma quase acamada, muito dependente para tudo o que éramos nós a fazer e agora não conseguimos (Atenção que, nestas cirurgias, a alta é no próprio dia e somos encorajados a começar logo a andar pequenos percursos, com calçado específico, para evitar retenção de líquidos). E a eles agradeço a ajuda e louvo a aprendizagem que também lhes impus ;)

Parte do meu trabalho é à secretária, parte é feito andando e desandando, pelo que a falta de mobilidade é angustiante. Daí ter preparado a cirurgia também para um período de menos trabalho. Mas a quem tenha este problema e possa, aconselho a fazer. Fi-lo para ganhar qualidade de vida... e lá chegarei.

Passados quase 6 meses da operação, onde por vezes não olhei por mim e abusei, não descansei porque tinha de andar e desandar, porque já estava há muito tempo parada e muitas pessoas não entendem porquê, porque o trabalho nunca pode esperar, porque tudo o que se faça é sempre pouco, tenho uma dor alucinante no pé esquerdo, que quase me impossibilita de andar novamente. Felizmente, porque parei de andar, não cheguei à fractura por stress que afecta a área do pé e para a qual me faltam termos técnicos para melhor a definir.

Conclusão da história: o corpo dá-nos sinais, devemos ouvi-los... mais do que ouvimos aquelas vozinhas em cima de nós a dizer: "Vai, trabalha, que isso passa, que isso não é nada..."

Somos nós que temos a saúde nas nossas mãos e, se a descuramos, vamos sofrer as consequências com danos colaterais e recuperações mais demoradas.

Por isso cuidem de vós! Não deixem para amanhã. 
Pode não ser tarde demais, mas pode dar-vos mais dores de cabeça do que inicialmente previram.
E depois têm de vender os bilhetes dos Scorpions porque não podem estar de pé...