sábado, 8 de dezembro de 2018

Feira de Pernes.... qual feira???

Tlim, tlim, tlim.... Era com o som dos martelos a bater nos ferros para montar as tendas que acordava, em casa dos meus pais, todos os dias 8 de Dezembro. Era o dia tão esperado: o dia da Feira de Pernes. Quanto mais perto ouvia o martelar, mais feirantes visitavam a vila nesse dia, Quando chegavam a montar a banca ao pé da porta de casa, era então um sucesso garantido.

Era assim... Até que a época moderna apanhou a feira nas curvas e tudo o que se lá possa comprar, se tem à mão de semear no dia a dia ... ou até no mercado de sexta, do dia anterior. 
Até que, não sei bem porquê (ou sei!), a feira mudou de sítio e foi lá para baixo, onde o coração da terra bate mais longe e onde a tradição já não é o que era.

Meias, cuecas, facas e um cordão de pinhão - assim mandava a minha tradição. Ia à feira de manhã, quando o sol espreitava e o nevoeiro levantava. Ah... e tirava uma sina na banca da Bruxa. Mas isso então já foi noutra vida... tempos muito recuados! Com sorte, saía outra folha e já ia viver até aos 110 anos!

Hoje foi com o coração a sangrar que saí do recinto da feira. Fui com a minha filha, num passeio dos tristes, que fizemos em pouco mais de 10 minutos. Louvo os feirantes que ainda se atreveram a montar os seus pertences, numa réstia de esperança que valha uns euros o sacrifício. Com o olhar aflito, dizem que pode ser que, à tarde, apareçam mais colegas, depois de fazerem os outros mercados... e clientes, claro.
 

Há ainda uns corajosos que nos apresentam coisas lindas como esta:





Triste dia este da Feira de Pernes. Cada ano tem vindo a piorar. Enquanto noutros locais se valoriza a diferença, a tradição... Se embelezam caminhos, expositores... Aqui espera-se pelas bancas de cãezinhos de peluche a chiar enquanto percorrem uns metros de cartão, e por uns quantos cachecóis e pantufas. Com respeito por todos, mas isto tem de ser muito mais... ou vai morrer só e abandonada,num descampado vazio de significado.

Feira é tronco de madeira a arder, febra acabada de grelhar no pão, cachola, artesanato da terra e arredores, que são bem vindos. E coisas diferentes, diferenciadoras. Que fazem um passeio valer a pena, aos de cá e aos que nos visitam.



Olhem que exemplo tão bonito temos no centro da vila, onde à volta deveria estar/regressar a Feira de Pernes, com os presépios realizados por associações e escolas, numa iniciativa da Santa Casa de Misericórdia de Pernes. Bonito, de valor, com empenho, gosto e que valoriza a nossa terra. 
Parabéns a todos! Já tenho o meu preferido, penso que ninguém lhe tira o primeiro prémio, seguramente. E lá está: valoriza o que é nosso, faz uma homenagem à nossa história!



Resta sonhar que no futuro, no dia 8 de Dezembro, se possa regressar, saudavelmente e de forma rejuvenescida, ao passado da Feira de Pernes.











Sem comentários:

Enviar um comentário